quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Balada Do Amor Através Das Idades


Eu te gosto, você me gosta 
desde tempos imemoriais.
Eu era grego, você troiana,
troiana mas não Helena.
Saí do cavalo de pau 
para matar seu irmão.
Matei, brigamos e morremos.

Virei soldado romano, 
perseguidor de cristãos.
Na porta da catacumba 
encontrei-te novamente.
Mas quando vi você nua 
caída na areia do circo
e o Leão que vinha vindo,
dei um pulo desesperado 
e o Leão comeu nós dois...

Depois fui pirata mouro
Flagelo da Tripolitânia.
Toquei fogo na fragata 
onde você se escondia
da fúria do meu bergatim.
Mas quando ia te pegar
e te fazer minha escrava,
você fez o sinal-da-cruz
e rasgou o peito a punhal.
Me suicidei também.

Depois fui cortesão de Versailles
espirituoso e devasso.
Você cismou de ser freira...
Pulei o muro do convento
mas complicações políticas 
me levaram a guilhotina.

Hoje sou moço moderno,
remo,pulo,danço e boxo
tenho dinheiro no banco.
Você é uma loura notável
boxa,dança,pula e rema.
Seu pai é que não faz gosto.
Mas depois de mil peripércias,
eu,herói da Paramount,
te abraço, beijo e casamos.

Carlos Drummond de Andrade





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